Manifesto "A Luta", por IACOREQ-RS
Confira o manifesto "A Luta", apresentado por representante do Instituto de Assessoria às Comunidades Remanescentes de Quilombos (IACOREQ-RS), Ubirajara Toledo, durante a Conferência de Encerramento do Seminário Luiza Bairros. O documento é resultado da discussão e da construção coletiva de integrantes do Instituto.
A Luta
19/05/2017
A luta antirracista vive um intenso ataque. Vive um tempo no qual a realidade sinistra do extermínio da juventude negra tornou-se uma banalidade e reivindicar o conhecimento da própria história vira caso de polícia. Aqueles que militam por suas causas tornam-se réus e são indiciados por comissões parlamentares de inquérito que insistem no retorno da humanidade ao século XVIII, época e período em que se afirmava a desumanidade no trato dos “não humanos”. Os tempos que estamos vivendo tornam-se sombrios na medida que nossos filhos, amigos e familiares não podem sair às ruas dentro ou fora de seus territórios, sob o risco de encontrar diante de si justiceiros da promoção da justiça injusta.
Nossas crianças não têm acesso a boas escolas, porque o lugar do corpo, do pensamento e do conhecimento a nós e aos nossos está delegado ao confinamento nos calabouços contemporâneos e o trânsito limitado aos nossos becos e vilas, entrecortados por tocaias policiais estabelecidas para determinar a sociedade de bem e sua patrimônios de modo espúrio e baseado na exploração estúpida pelo capital.
Nossos impasses são impasses que se estabelecem a partir da parcialidade da Justiça que não é cega, que a Rafael impõe pena de reclusão e a Eike o castigo do confinamento da mansão.
Nossos impasses estão nas sentenças de morte proferidas pelo soldado ou pelo oficial no confronto direto ou indireto, ou pela bala que se perde e encontra o peito negro juvenil.
Nosso impasse está no processo intenso de criminalização dos Movimentos Sociais e marginalização do Movimento Negro. Nossos movimentos continuarão incomodando o sistema preconceituoso e racista. Nosso pensamento ainda necessita ser pensamento revolucionário, pois a revolução transforma e não retorna.
A revolução desestabiliza e ergue uma nova perspectiva de ver o mundo, uma nova maneira de agir e interagir.
Hoje, talvez, falar e pensar o sentido da palavra Revolução seja uma forma de pensar na real possibilidade de transformação sociais, pois reformar o que aí está, significa reacomodar.
Nosso tempo é agora, nosso momento é esse, vivemos nesse tempo triste de retrocesso, de violência e incerteza que não vai mudar se não revolucionarmos nossa forma de pensamento e nossa forma de ação. A revolução se faz de várias maneiras e uma delas é através do conhecimento, do uso da palavra, da inteligência e da razão.
NÓS, LENTAMENTE, ESTAMOS PROPONDO A REVOLUÇÃO POR MEIO DO ESTUDO, DA REFLEXÃO E DA AÇÃO.
QUEREMOS O POVO NEGRO NO PODER - mas não para negligenciar outras historicidades -, QUEREMOS QUE OS QUILOMBOS SEJAM LUGARES DE REVOLUÇÃO E QUE OS GUETOS, FAVELAS, ESPAÇOS DE AÇÃO E PRODUÇÃO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA E CANÇÃO E ASSIM SERÁ.
* TITULAÇÃO DOS TERRITÓRIOS QUILOMBOLAS
* LIBERDADE PARA RAFAEL BRAGA
* NÃO À CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS
* APOIO IRRESTRITO AOS SERVIDORES DO INCRA E FUNAI, PESQUISADORES E MILITANTES CITADOS NA MALFADADA CPI